quinta-feira, 20 de março de 2008

Dilema de um Coração Apaixonado

Dilema de um Coração Apaixonado






Pb. Carlos Rogério Alves
Bacharel em Teologia



Quem é que nunca se apaixonou por alguém? Seja por aquela coleginha do jardim de infância, seja por aquela pessoa que vimos pela primeira vez numa festa. Neste momento, escrevo essas linhas com um sorriso no rosto ao me lembrar que até por minha professora do jardim de infância fui loucamente apaixonado.

Como é gostoso estar apaixonado! Um suspiro ao lembrar da pessoa amada, um friozinho na barriga quando ouvimos sua voz, sem falar que, quando estamos apaixonados, a voz de nosso amor soa como música aos nossos ouvidos. A paixão tem a virtude de transformar o mais insensível dos mortais em uma pessoa meiga e delicada. Pois sem percebermos, a paixão nos abraça com seus braços flamejantes. Conseqüências? Ora! Começamos a rir à toa, dançar sem música e até a cantar para todo mundo ouvir. Ah! Um coração apaixonado é tão bobo!

Quão maravilhoso seria se fossemos apaixonados na devoção a Deus. É comum cantarmos nos momentos de louvores em nossas comunidades, belas músicas cujas letras declaram frases do tipo: “quero me apaixonar outra vez”; “apaixonado por você Senhor estou”, dentre outras. Não obstante, na prática não é verdadeira essa devoção apaixonada. Se estamos apaixonados por Deus, por que passamos tão pouco tempo em sua presença? Se estamos apaixonados por Deus, por que conversamos tão pouco com ele? Quando estamos apaixonados por alguém, ansiamos estar na presença da pessoa amada. Acredito que foi partindo desta verdade que o poeta Salomão escreveu seu lindo poema: “Eu abri ao meu amado, mas ele já se tinha retirado e ido embora. A minha alma tinha desfalecido quando ele falara. Busquei-o, mas não o pude encontrar; chamei-o, porém ele não me respondeu. Encontraram-me os guardas que rondavam pela cidade; espancaram-me, feriram-me; tiraram-me o manto os guardas dos muros. Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu amado, que lhe digais que estou enferma de amor.”

O apaixonado jamais fingirá indiferença pela pessoa amada. Quem está apaixonado vive não mais para si próprio, e sim, para quem ele ama. É fácil falar que estamos apaixonados por Deus, mas, ao observar o nosso comportamento, chego à infeliz conclusão de que somos muito indiferentes para com o Senhor. Se somos apaixonados por Deus, por que somos tão apáticos ao falar dele para nossos amigos? Se somos apaixonados por Deus, por que não o defendemos quando pessoas o ridicularizam? Defender a seleção Brasileira com eloqüência e entusiasmo é tido como paixão pela camisa canarinha, porém, defender o nome de Deus como se estivesse defendendo a própria honra, é tido como fanatismo. Será, meu caro leitor, que o que tu sentes por Deus, realmente é paixão?

A palavra paixão vem duma raiz latina, passione, que segundo o gramático Aurélio Buarque de Holanda, significa amor ardente; Sentimento ou emoção levada a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão. Um sorriso desconsertado, um brilho no olhar, um gesto de carinho são algumas das atitudes indeléveis no comportamento do apaixonado. O apaixonado vive tentando provar o seu amor para a pessoa amada. Quando estamos apaixonados não importa o que os outros pensem de nós, o que importa mesmo é viver para agradar a pessoa desejada, podendo até fazer coisas inusitadas, por este motivo o apaixonado é tido por muitos como louco. Não sei se o leitor concordará comigo, mas seria enfadonho se a paixão não trouxesse consigo um pouco de loucura. A paixão não se aplica apenas à pessoa amada, mas também a um ideal, a uma profissão, em fim, a paixão é sublime. Se a paixão não tivesse um pouco de loucura, o que levaria um advogado, diante do grande júri defender o réu com tanto entusiasmo e convicção, como se estivesse defendendo a própria liberdade, se não fosse apaixonado por sua profissão? John Huss, o grande Teólogo e Evangelista, ao ser capturado pelos seus perseguidores e amarrado num tronco para ser queimado, foi provocado a negar seus ideais, e o nobre Huss respondeu: “hoje vocês podem matar o ganço, porém Deus levantará o cisne e ninguém o conseguirá deter”. Este nobre teólogo foi queimado vivo, mas não negou seus ideais, pois ele estava apaixonado por seus princípios. Se a paixão não tivesse um pouco de loucura essas atitudes não seriam possíveis.

Tenho algo a te dizer nesta dissertação. Talvez você esteja com esses sintomas da paixão que descrevemos acima. Noites sem dormir, rindo toa, com falta de atenção... e por falar nisso, talvez você nem esteja prestando atenção nesta narrativa. Se isto estiver acontecendo, não fique preocupado, abra um sorriso, e seja bem vindo ao Clube dos apaixonados.

Você concordará comigo que é gostoso se apaixonar, ter alguém para compartilhar seus sentimentos e trocar gestos de amor e carinho. Porém, maravilhoso é ser correspondido pela pessoa amada. Queria te dizer que existe uma pessoa que é caidona por você, essa pessoa só vive te observando mesmo sem você perceber. Encanta-se todas as vezes que você dá um sorriso. Essa pessoa pára tudo o que está fazendo somente para ouvir a sua voz. Você não sabe disso, mas essa pessoa às vezes até chora, esperando que você possa corresponder a esse amor.

Essa pessoa é Deus. Isso mesmo! Deus é apaixonado por você. Ele te manda flores em toda primavera, te ilumina com o brilho do sol, embeleza suas noites com o glamour das estrelas. Todos os dias ele está a gritar: - Estou gamado em você! Ei! estou apaixonado por ti, vamos marcar um encontro no fim de semana? E você responde: - não posso Senhor, estarei ocupada, e durante a semana estarei empenhada no trabalho e nos estudos, e no tempo de folga marquei para sair com os amigos, infelizmente não tenho tempo, deixa para outra oportunidade, tudo bem? E com essa atitude você mostra muita indiferença com a pessoa que te ama com o maior amor do universo.